POTÊNCIA ERA TUDO
Naquele período, as montadoras utilizavam
as corridas oficiais como forma de conquista de novos - e fiéis
- compradores. De olho no mercado e nas regras dos campeonatos, modelos
como o Ford Fairlane Thunderbolt com motor 427', Pontiac Catalina 1962
"Swiss Cheese", Ford Torino Talladega e o recordista Dodge Charger
Daytona, foram lançados e vendidos normalmente ao público.
A potência e o exagero na cilindrada era
algo desejado por todos, e mais ainda pela própria Chrysler: de
olho nas Arrancadas promovidas pela NHRA, a montadora contratou a Hurst
Performance para produzir cerca de 80 unidades especiais do Dodge
Dart e da Plymouth
Barracuda. E a Hurst atendeu seu pedido, pois nenhuma fábrica
conseguiu produzir um carro tão selvagem, devastador e assustador
como o Dodge
Dart Hemi Super Stock de 1968. Só mesmo a Mopar para construír
algo como o Hemi Dart, afirmam os especialistas Norte-Americanos. Tom
Shaw, jornalista da revista Muscle Car Review chegou a escrever: "A
Chevrolet até poderia ter construído um algo como o Dart
Hemi, mas somente a Chrysler teve a coragem para isto". Para completar,
o ano de 1968 era perfeito para o projeto, pois a Ford se preocupava em
ter bons resultados na NASCAR e a GM em construir carros mais seguros
e menos poluentes.
LANÇADOS PARA AS PISTAS
No dia 20 de Fevereiro de 1968, a Chrysler envia
cartas aos seus revendedores alertando sobre a opção por
seus novos modelos. Sob o código L023 e B029, eram produzidos respectivamente
o Dodge Dart e a Plymouth Barracuda, destinados às competições
e vendas ao consumidor.
Levando em consideração que para vencer
arrancadas temos que ter o menor peso possível e a maior potência
disponível, os Super Stock Dodge e Plymouth eram perfeitos. Totalmente
aliviados e muito mais leves que as versões originais. O Dodge
Dart Hemi tinha ambos paralamas dianteiros e o capô de fibra,
paralamas traseiros "cortados" aliviando peso e aumentando o
espaço disponível para os pneus. As portas e parachoques
eram produzidos com chapas de aço mais finas que o normal, as máquinas
de vidros eram removidas (um
cinto e trava mantinha os vidros fechados), não possuia rádio,
aquecedor, material isolante, banco traseiro e outros itens considerados
"supérfluos" para carros de corrida. Até mesmo
os bancos
dianteiros eram mais leves, com estrutura
em alumínio e a bateria era deslocada para o porta-malas.
A MECÂNICA
O
melhor desta incontrolável máquina era o motor. Debaixo
do capô tudo era feito para suportar o enorme
HEMI 426. O cilindro mestre era deslocado para dar espaço para
as tampas de válvulas, a direção hidráulica
era removida, a travessa inferior (K-Member) era adaptada e pequenos "amassados"
no cofre/paralama interno eram necessários para acolher o novo
motor. Conhecido
como uma obra de arte da engenharia automotiva, o "Elefante
Laranja" Hemi 426(assim nomeado devido às suas câmaras
de combustão hemisféricas e grande cilindrada) foi muito
popular nos anos 60, equipando vários veículos Chrysler
de rua e competição.
No
Dart ele vinha com cabeçotes de ferro fundido (havia de alumínio)
e cárter simples, para diminuir os custos. tuchos mecânicos,
corrente dupla de comando, bomba de óleo de alto volume, taxa de
compressão de 12.5:1, dois carburadores Holley Quadrijet mecânicos,
coletores dimensionados - Competition Hooker - e saída dupla da
descarga completando o conjunto. Para esfriar o ânimo da fera eram
usados um radiador de 3 colméias - o mesmo do motor 383 A/C - e
uma hélice hidrodinâmica de 7 pás.
Tentando
driblar as regras impostas pelo governo para circulação
de automóveis de passeio, a Chrysler declarava menor potência
e torque do seu motor HEMI: "apenas" 425 cavalos e 490ft lbs
de torque, disponíveis a 4.000rpm. Porém, especialistas
constataram que o Dodge tinha, na verdade, cerca de 600 cavalos de potência!
Para
suportar e transmitir toda esta potência para o chão, o comprador
optava pelo câmbio de 4 marchas com alavanca Hurst ou TorqueFlite
automático. O diferencial era o Dana 9 3/4, com relação
curta: 4.88. Os freios eram à disco na dianteira (pouco comum no
período) e tambor na traseira. A suspensão recebia um pacote
especial denominado "High Control" e rodas de aço aro
15. A troca dos pneus originais, por esportivos, deveria ser feita pelo
próprio comprador.
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Ao final do projeto a Chrysler havia produzido
um dos carros mais rápidos do mundo. Para conter o ânimo
dos compradores era necessário assinar um termo de responsabilidade
imposto pelo governo Norte-Americano. Apesar do seu baixo preço,
cerca de U$4.500, vários pontos deveriam ser levados em consideração
antes de se comprar este Muscle Car:
-
O veículo era
vendido sem garantia e não se conformava aos padrões
de segurança federais;
- Uma marcha-lenta alta era necessária para garantir melhor lubrificação,
minimizar a aspereza e manter seu funcionamento;
- A regulagem e admissão possuíam mistura rica, o que causava
problemas para o funcionamento do motor em clima frio;
- O Consumo de óleo era maior do que o normal, para que os cilindros
e válvulas fossem melhor lubrificados;
- Os carburadores possuem regulagem pouco adequada para uso em rua. Seu
consumo é maior do que o de carros convencionais;
- Ruídos no funcionamento do motor eram notados devido à
alta taxa de compressão e utilização de comando de
válvulas e tuchos mecânicos;
- O sistema de ignição era projetado para obter melhor desempenho,
devendo ser mantido em ótimas condições. Fazendo-se
necessário inspecionar, ajustar, e substituir mais freqüentemente
as velas e cabos de ignição;
- Nos carros equipados com transmissão automática, o ajuste
da cinta deve ser feito mais freqüentemente;
- Devido às suas características e alto desempenho, as despesas
relativas a manutenção (troca de óleo, etc...) serão
maiores e mais frequentes.
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Além de todas as considerações
acima, a Chrysler ainda colava um adesivo
ao lado da porta com os dizeres: "Este veículo não
foi fabricado para uso em ruas, estradas ou rodovias públicas,
e não está de acordo com os padrões de segurança
para veículos automotores".
DOMINANDO AS COMPETIÇÕES
Fora
os problemas e questionamentos trazidos pelas regras impostas pelo governo,
o Dart HEMI 1968 era um ótimo negócio para quem queria andar
na frente. Com seus 600hp e peso de apenas 977 kg, este Dodge conseguia
alcançar os 402 metros (Arrancada) na casa dos 10 segundos aos
216 km/h!
Nas
competições da NHRA, o Dodge
Dart Hemi competia com a Plymouth Barracuda (também HEMI) e
outros modelos das várias montadoras. E como não podia deixar
de ser, os modelos Chrysler dominaram as arrancadas naquele período.
Prova disto foram os recordes da categoria conseguidos por Ronnie Sox
(Barracuda) e Don Groother (Dart).
Sem dúvida estes modelos marcaram seu tempo,
entusiasmando todos até os dias de hoje. Fato comprovado quando
assistimos suas
arrancadas, com baixo tempo e ainda muita disposição.
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